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13/06/2010

“Até a elite do PMDB menosprezava o governador”


Jornal Opção Tocantins

ENTREVISTA - FENELON BARBOSA
“Até a elite do PMDB menosprezava o governador”

Ex-prefeito de Palmas prevê que governador Gaguim conseguirá unir o PMDB em função dos resultados satisfatórios do seu governo. Fenelon também conta saborosas histórias da origem de Palmas


RUY BUCAR


O ex-prefeito de Palmas Fenelon Barbosa revela que não deseja mais disputar mandato eletivo, mas que não vai abandonar a militância política. Filiado ao PSB avalia que o governador Carlos Henrique Gaguim (PMDB) vem realizando um governo competente, o que será fundamental para concretizar o seu projeto de continuar no comando do Palácio Araguaia por mais quatro anos.


Fenelon comenta que a própria elite do PMDB menosprezou o governador e agora vai ter que reconhecer e reparar o equívoco. “As lideranças mais velhas na verdade não acreditaram no governo Gaguim. Eu acho que não acreditaram e hoje estão surpresos com o trabalho que ele vem fazendo”, avalia o ex-prefeito, prevendo que em pouco tempo o quadro político do Estado vai ser bem diferente do que se desenha hoje.


Fenelon revela que sempre acreditou que Palmas seria uma grande cidade, mas não esperava que tudo pudesse acontecer tão rápido. “Palmas surpreendeu a mim e a muitas pessoas aqui, porque hoje é muito mais do que a gente pensava e esperava”, declara, lembrando que no início a Prefeitura pagava frete de mudança de qualquer lugar do país para trazer gente para povoar Palmas. Fenelon conta que em sua gestão a Prefeitura teve até que pagar um salário para as famílias de migrantes como forma de ajudá-las a fixar na cidade.


Em entrevista exclusiva ao Jornal Opção, Fenelon conta como recebeu a proposta de acabar com a autonomia administrativa de Taquaruçu do Porto e transformar o município em distrito da Capital como medida para transferir a capital de Miracema do Tocantins para Palmas, que na época não passava de um canteiro de obras. Explica que em compensação deixou de ser prefeito do menor município do Estado, para virar prefeito da Capital.


Fenelon Barbosa foi prefeito de Taquaruçu do Porto de 1º de junho de 1989 a 1º de janeiro de 1990, tempo que durou a existência do município, tendo sido o seu primeiro e único prefeito. A partir desta data com anexação de Taquaruçu a Palmas, que passaria a ser a nova Capital do Estado, Fenelon veio ocupar o cargo de prefeito, tendo sido também o primeiro prefeito de Palmas. Na época a sede da Fazenda Suçuapara foi usada como sede da Prefeitura até que o prédio definitivo do Paço Municipal ficasse pronto.


Como o sr. avalia o desenvolvimento de Palmas quase 20 anos depois de ter sido prefeito?


Com muita felicidade. Palmas é hoje uma cidade grande, que tem crescido bastante, que tem desenvolvido. É uma cidade modelo, com outros Estados querendo que façam a divisão para que eles também consigam emancipar, porque o Tocantins deu certo e Palmas é uma cidade que tem desenvolvido e tem oferecido um padrão de vida maravilhoso ao povo daqui. Então eu vejo Palmas com muito orgulho, uma cidade muito boa para se viver.


O sr. foi responsável pelos primeiros impulsos da cidade. Dava para imaginar naquela época o que seria 20 anos depois?


Não dava, tinha aquele ditado que Palmas iria dar certo, ia ser uma cidade muito boa, que iria trazer um progresso muito grande para a região, mas eu não pensava que seria tão rápido assim. Palmas surpreendeu a mim e a muitos aqui, porque hoje é muito mais do que a gente pensava e esperava.


Qual a obra que ficou na memória da população como marca do período Fenelon?


No período o que marcou muito foi o trabalho social que nós fizemos. Investimos muito no social, a Prefeitura administrava apenas 24,6% do FPM, mas com esses recursos nós fizemos um trabalho social muito grande. Fizemos os loteamentos, abrimos as ruas, construímos muitas casas populares, a Prefeitura doou lotes para o povo, materiais de construção. Tínhamos equipe de pedreiros para construir casas para o pessoal, foram feitas todas as estradas do município levando estrada a cada fazenda, enfim foram feitos os primeiros postos policiais, os primeiros postos de saúde, as primeiras escolas. Isso marcou muito.


Eu me sinto muito feliz por ter feito e tenho certeza que se o meu mandato tivesse sido um pouco mais cumprido nós teríamos feito muito mais. Nosso mandato naquela época foi apenas de três anos e dois anos foram políticos, mas isso foi uma coisa que marcou muito. Talvez a gente errasse pensando em acertar, mas pelo menos dessa parte que estou falando, o que marcou na administração, na minha memória, e nunca esqueço, foi o que pude fazer pelas pessoas.


Administrar apenas 24,6% dos recursos de FPM da Capital não foi um processo injusto imposto pelo governo?


Foi injusto sim. A Prefeitura é que tem que administrar os seus recursos através do seu prefeito, não só em Palmas, mas todas as prefeituras têm que ter a capacidade de administrar os seus recursos. Foi uma coisa injusta e a Prefeitura na época ficou impedida de fazer muita coisa, asfaltar, fazer grandes obras como colégios, que não foram feitos por falta de recursos. Alguns colégios que nós fizemos, como o Tiago Barbosa, Benedita Galvão, Rodrigues Monteiro, em Taquaralto, a escola da 95, o Estevão de Castro, no Aureny III, o colégio de Buritirana, o Colégio Boa Esperança, todos foram feitos com recursos da Prefeitura. E se tivéssemos mais recursos teríamos feito muito mais.


Como o sr. recebeu a proposta de Taquaruçu deixar de ser município para colaborar com a implantação do município de Palmas?


Foi um dos momentos mais feliz da minha vida. Porque primeiro de tudo eu era o prefeito e iria ser o prefeito de Palmas, com certeza a gente ia fazer parte da história. E depois disso eu pensei o seguinte, o progresso que ia chegar para a região, o desenvolvimento que esse projeto ia trazer para a região mais esquecida de Goiás na época, então eu sabia que com isso ia desaparecer esse esquecimento, esse abandono, e aqui seria uma região desenvolvida. Sabia que Palmas seria uma grande cidade, foi isso que eu pensei na hora.


Quem lhe fez a proposta e como foi encaminhado esse processo da negociação?


Foi o governador Siqueira Campos que me convidou, se eu toparia ajudá-lo, transferir a capital de Miracema para esse local. Se não me engano, foi entre os dias 10 e 15 de dezembro de 1989. Dia 1º de janeiro de 1990 consolidou, mas antes disso teve uns dias antes para que a gente pudesse organizar a posse.


O ex-vereador Euclides (Correia) revela que recebeu ameaças de pessoas de Taquaruçu que diziam que se os vereadores votassem o projeto de transferência corriam o risco de serem linchados. O?sr. também recebeu pressão, enfrentou resistência da população quando ela tomou conhecimento que Taquaruçu, que acabava de ser emancipado, iria voltar a condição de distrito?


O vereador Euclides falou que muita gente estava contra, mas eu até acho que não, porque no dia que comemoramos a transferência, que foi consumada, o povo de Taquaruçu se reuniu naquela praça de lá (Praça Joaquim Maracaipe) e saiu todo mundo gritando em passeata, soltando foguetes, aquela euforia enorme em Taquaruçu. Eu não vou dizer que não tenha tido algumas pessoas contra, mas eram minoria. Talvez o vereador tenha ficado sabendo depois, porque no meio de uma comunidade não deixa de surgir pessoas contra as coisas boas.


O sr. costuma dizer que se não fosse Taquaruçu Palmas não teria sido implantada, e não seria a cidade que é hoje. Por quê?


Naquela época não tinha uma lei que desse poderes para o governador transferir a capital, a não ser para uma cidade, para qualquer um município. Ele não podia colocar ela aqui, se não fosse Taqurauçu não poderia colocar aqui. Ele teria que esperar quatros anos e tentar realizar um plebiscito, convencer as pessoas para ceder, para confortar com a desapropriação dessa região, para que pudesse colocar a capital. Por isso que eu falo. Como Taquaruçu era emancipado, cedeu a sua sede, voltou à condição de distrito, e a capital foi transferida para Palmas.


Se Taquaruçu não tivesse aceito essa condição o que seria daquele município hoje?


Seria hoje uma cidadezinha pacata, isolada. Não tinha condições de oferecer um padrão de vida razoável ao povo do município, com certeza seria isso.


Um dia Taquaruçu ainda vai voltar a pleitear a emancipação política?


Acho que sim. Taquaruçu está muito bem, é um distrito mãe de Palmas. Foi o responsável por tudo que existe aqui e Taquaruçu está muito bem. Mas eu acho que futuramente o distrito pode muito bem emancipar-se, e ter a ajuda de Palmas, não ser um município pacato que às vezes não tenha a condição de fazer aquilo que precisa. Acho que se Taquaruçu emancipar, Palmas vai ajudar e será um grande município, uma cidade boa, que dará condição de vida muito boa ao seu povo.


E a vocação continuará sendo o ecoturismo?


É um dos pontos fortes de Taquaruçu, muito importante, mas eu acho que poderia ser explorado de forma mais organizada, se tivesse mais incentivo. Se tiver, vai crescer muito o ecoturismo em Taquaruçu.


As pessoas dizem que depois da sua administração nenhum prefeito trabalhou tanto por Taquaruçu como Raul Filho. Como o sr. vê o trabalho dele e como foi o trabalho do primeiro prefeito em Taquaruçu?


A minha administração começou praticamente do zero, Taquaruçu era um pequeno povoado naquela época e foi emancipado justamente para tentar desenvolver, melhorar não só o distrito, a cidade, como a região. Fizemos loteamentos, abrimos as ruas fizemos aquela praça, construímos o colégio (Crispim Pereira de Alencar), fizemos um pequeno hospital, tínhamos alguns leitos e por isso era chamado de hospital. Abrimos assim o progresso na região. Veio muita gente porque nós ajudamos, incentivamos e foram construídas muitas casas populares. Por essa razão muita gente acha que ninguém nunca trabalhou em Taquaruçu como nós fizemos na época, e por sinal num período muito curto. Mas o Raul tem sido um bom prefeito para Taquaruçu, tem olhado para o distrito, tem feito obras importantes não só lá, mas em todo o município. As escolas que ele tem construído são de qualidade. As escolas de tempo integral. Vejo Raul como um prefeito que merece o nosso apoio. O?que ele faz, faz bem feito e tem feito muito. Ele melhorou Palmas, incentivou o progresso, incentivou o crescimento. Temos que reconhecer o que ele tem feito.


O sr. começou na política junto com o ex-governador Siqueira Campos, com quem depois teve divergências e rompeu definitivamente. Ficou ressentimento?


Não, não ficou. Política é coisa que passa. As vezes existem essas divergências, mas depois isso passa e hoje não tem mais. A?todos eu considero meus amigos, tanto Siqueira Campos como a família dele, não tenho nada contra.


Como o sr. avalia o quadro político do Estado?


É complicado hoje, mas eu vejo que o governo Gaguim está fazendo um trabalho fantástico. Há um mês eu falei várias vezes, se a eleição fosse hoje daria Siqueira disparado. Mas hoje não vejo mais assim. Vejo uma eleição disputada e o governador Gaguim com muita chance de ganhar a eleição. Como o Siqueira Campos tem, ele tem também, é uma eleição de igual para igual. Está sendo feito esse trabalho, implantado esse programa Acelera Tocantins que tem ajudado muito os municípios, os prefeitos, a cumprirem seus compromissos com seu povo. Isso tem mudado a política no Tocantins. Acredito que daqui a um mês e meio nós vamos ver a política totalmente diferente do que está ai.


O sr. vê que a ala histórica do PMDB subestimou o governador, pois contava que ele fosse um desastre?


As lideranças mais velhas não acreditaram no governo Gaguim. Não acreditaram e hoje estão surpresas com o trabalho que ele vem fazendo. É um trabalho que está dando certo, vai dar certo. Não sei se daqui para o final de setembro nós não estaremos lá em cima com Gaguim. Sinceramente eu vejo desse lado e acredito que é apenas uma questão de tempo os antigos do PMDB, que são as raízes mais velhas, vão estar com Gaguim, porque eles vão tomar conhecimento, eles já conhecem que a realidade é outra, não é o que eles pensavam.


O sr. pendurou as chuteiras? Não sente falta da militância política?


Eu pendurei a chuteira, é verdade. Sinto falta sim, gosto de política, gosto de estar ajudando as pessoas. Primeiro eu queria ser candidato, tinha vontade, às vezes por determinadas circunstâncias não era possível e não deu certo. Hoje eu gosto de ajudar as pessoas, mas contanto que a gente esteja participando da política.


O seu filho, vereador Wanderlei Barbosa, é um dos nomes apontados como candidato a prefeito de Palmas. O?sr. defende a candidatura dele, como seria Palmas com Wanderlei na Prefeitura?


Wanderlei tem demonstrado muita competência, capacidade e muito amor por esse lugar, pelo povo de Palmas. Tem feito um trabalho à altura dos anseios da sociedade. Já vimos outras pessoas que vêm de fora, chegam aqui, arrumam um jeito de trabalhar no município e no final viram prefeito, pessoas que não têm raízes aqui. O Wanderlei é uma pessoa que ajudou a construir essa cidade. Na época que eu fui prefeito ele era subprefeito meu em Taquaruçu e fez um trabalho fantástico. Naquela época já demonstrou que tem competência, que tem todas as condições de governar esse município. Então eu vejo com muito otimismo e espero em Deus que isso vai acontecer breve, porque Wanderlei é um dos que ajudou a construir isso aqui.


Muitos palmenses têm curiosidade em saber como a Prefeitura e a Câmara se instalaram em uma casa de fazenda. Como foi aquele momento de pioneirismo?


Foi na Casa Suaçuapara, quando foi concluído todo o processo de transferência da Capital, nós tomamos posse, eu como primeiro prefeito de Palmas em 1º de janeiro de 1990. Ficamos ali, numa casinha de fazenda, pequena, ali trabalharam os secretário de Governo, de Finanças e de Transportes. Os demais ficaram fora porque não tinha espaço. O governador Siqueira Campos construiu um barraco de tábua e algumas secretarias e departamentos funcionavam por ali. Eu me lembro que atendemos o povão que chegava, e era muita gente, naquela época tudo dependia da Prefeitura, e todo mundo queria falar com o prefeito pela questão de lotes, de materiais para construir suas casas, de transporte para buscar suas mudanças, essas coisas. Foi um trabalho difícil, pesado, mas que valeu a pena, marcou a minha vida e tenho certeza que um investimento como esse nesta região nunca mais haverá. Quando fomos transferidos para Palmas, estava em construção o prédio da Prefeitura. A construtora fez um trabalho muito rápido, ficou pronto em maio e nós mudamos.


Não foi certa discriminação construir bairros populares tão longe do centro da cidade?


Naquela época as pessoas de nível médio para baixo não tinham o direito de morar aqui (em Palmas). Se aquela lei fosse muito mais explorada ficaria difícil para o governador ganhar a eleição. Aquilo foi terrível. Nós tivemos que receber o povo todo em Taquaruçu, Taquaralto, nos Aurenys, mas isso foi ação do governo. Até acho que se fosse hoje teria feito um projeto diferente, mais junto, mais descomplicado, mais próximo pra facilitar também para as pessoas, principalmente as das classes mais baixas. Vir do Taquaralto, dos Aurenys, para trabalhar aqui, ou para arrumar negócios em Palmas, é difícil. O principal hospital da cidade é aqui e o povo que mora lá naquele mundo tem dificuldade, é getne de poder aquisitivo baixo. Se fosse hoje talvez não fosse daquela forma.


O fluxo migratório para Palmas em função da propaganda do governo também foi algo difícil para se administrar. Como foi na Prefeitura?


Era um fluxo tão forte de gente aqui que não tinha nem como atender todos ao mesmo tempo. Todo mundo vinha em busca de algum interesse e queria morar em Palmas. Eu ouvia falar que Palmas poderia mudar daqui, corria o risco de mudar para outro lugar. Então eu pensei a Prefeitura vai comprar e alugar mais uns carros e vamos buscar gente de tudo quanto é lugar e povoar o máximo que puder, daqui não deixamos sair. A Prefeitura fez convênio com um hospital de Porto (Nacional) para atender as pessoas que adoeciam aqui, nós mandávamos gente para Goiânia, para São Paulo, para Gurupi, para Araguaína. Era assim porque naquela época aqui não tinha e o que não podia ser atendido em Porto Nacional nós mandávamos para outro lugar. Tinha uns restaurantes próximos à Prefeitura para dar comida às pessoas que vinham, porque não tinham onde ficar. Nós pagávamos por mês a restaurantes para atender as pessoas. Gostei de fazer esse trabalho, as famílias vinham à Prefeitura e a gente pagava meio salário para cada família, uma ajuda para as pessoas começarem a vida nesse lugar. Existia lei aprovada pela Câmara e a Prefeitura fez isso com muitas famílias. Quando eu saí, ao final do mandado, em dezembro, isso acabou e foi um comentário enorme, porque as pessoas estavam acostumadas. A Prefeitura deu o sopão nas Arnos e nos Aurenys, ajudando as pessoas a se alimentarem de segunda a sexta-feira. Foram coisas que nós fizemos e que marcaram. Eu saio por aí e as pessoas falam seu Fenelon, talvez o sr. não sabe, mas o sr. fez isso, fez aquilo para minha família, o sr. mandou me levar em Goiânia, mandou buscar nossa mudança no Maranhão. Muitas mudanças no Maranhão, na Bahia, no Piauí, até no Pernambuco nós mandamos buscar, sem falar em Goiás, Mato Grosso, Pará. São coisas que marcaram a minha vida como político, e eu fui chamado em São Paulo por uma empresa (não me lembro o nome), para receber uma homenagem como melhor prefeito do Brasil. Nós fomos escolhidos porque o trabalho social, esse grande trabalho social que nós fizemos, foi um dos trabalhos mais importantes que as prefeituras fizeram naquela época no Brasil.

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