Secretária Dolores Fernandes usa salto alto durante toda a semana. Ela adora.
Por causa da profissão, a secretária Dolores Fernandes usa salto alto durante toda a semana. E adora. “Dá um grande diferencial no visual”, avalia. Ela não reclama de usar este tipo de calçado diariamente, mas também se preocupa em tomar cuidados para que não sofra no futuro com dores nos pés ou algum problema de coluna. “Nem todos são anatômicos. Por isso, procuro sempre sapatos confortáveis e com saltos de até cinco centímetros”, garante. Porém, nem sempre os cuidados no uso do salto alto são respeitados, e muitas mulheres acabam abusando do calçado.
Este não é o caso da secretária. A altura do salto que ela usa está dentro dos limites aceitáveis pelos médicos da Ortopedia. De acordo com o ortopedista Wilel Almeida Benevides, especialista em pé e tornozelo, saltos entre três e cinco centímetros são benéficos. Porém, os acima desta altura poderão levar a dores no antepé (parte inferior do pé) devido ao peso do corpo concentrado na parte da frente do membro.
A lista de doenças não para por aí. A mulher também pode apresentar deformidades nos dedos e encurtamento muscular. “Os dedos ficam para baixo por um período prolongado. Assim, a panturrilha (conhecida como batata da perna) fica acostumada somente nesta posição”, explica o ortopedista. Com o tempo aparecem problemas na movimentação dos pés, por exemplo, dificuldades em dobrá-los.
E não é apenas a estrutura óssea afetada pelo uso inadequado de saltos altos. Varizes e problemas de circulação sanguínea também podem ser notados em quem abusa desse tipo de calçado. De acordo com o presidente do Departamento de Angiologia da Associação Médica de Minas Gerais (AMMG), Bruno Naves, sapatos e sandálias acima de sete centímetros de altura podem comprometer o bombeamento de sangue na perna.
Segundo ele, o sangue que sai do coração e vai até o dedão do pé precisa voltar para o órgão. “Com o salto muito alto, a massa muscular da panturrilha não trabalha e o sangue fica parado na musculatura. Um leve salto já faz com que a panturrilha se contraia”, explica. As mulheres que usam inadequadamente o salto podem, ao final do dia, apresentar inchaço nas pernas, cansaço e sensação de peso no corpo. “O que é piorado nesta época de calor”, observa Bruno.
Para evitar danos à saúde, os saltos indicados são os do tipo grosso, anabella e plataforma, com a mesma altura do calcanhar à ponta. “E não se pode esquecer que todos eles devem ter até cinco centímetros”, observa. Os saltos finos e do tipo agulha são prejudiciais. “Eles promovem desigualdade na distribuição do peso do corpo no pé, provocando patologias a curto e a longo prazos”, diz Wilel.
Atenção redobrada entre adolescentes
Se as recomendações são muitas para as mulheres adultas, as adolescentes que não abrem mão do calçado de salto alto devem redobrar a atenção. Uma pesquisa da fisioterapeuta Patrícia Pezzan, defendida na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), mostrou que essas meninas podem sofrer comprometimento do alinhamento postural e da biomecânica normal da marcha.
O estudo foi realizado com 50 adolescentes, entre 13 e 20 anos, e focou o uso da anabella. Porém, a fisioterapeuta alertou que qualquer uso de salto alto por muitas horas seguidas, e muitas vezes na semana, pode trazer problemas em qualquer idade.
“Mas, se as adolescentes já começam cedo a fazer uso prolongado do salto alto, podem terminar a fase de crescimento ósseo e muscular já com alterações na postura e na marcha. Essas alterações, ao longo do tempo, podem gerar dores, um desequilíbrio muscular muito grande, estresse articular e até degeneração das articulações”, afirma.
Os impactos do uso constante de salto alto podem ser amenizados com alongamentos dos membros inferiores e atividades físicas periódicas. Além disso, só use sandálias e sapatos altos no tempo necessário.
Ao chegar em casa, de acordo com o angiologista Bruno Naves, a mulher deve colocar as pernas para cima, na altura do coração, por cerca de dez minutos. O especialista também recomenda fazer atividades aeróbicas, como bicicleta, caminhada e natação, três vezes por semana.
Essas atividades devem ser intercaladas com os trabalhos de musculatura da perna. Os exercícios não são apenas indicados para evitar problemas imediatos, mas também consequências no futuro, como a osteoporose.
E engana-se quem acredita que apenas os calçados de salto alto fazem mal à saúde. Mulheres que usam muita rasteirinha e tênis devem ficar atentas.
“Sandálias muito baixas também não são boas, pois provocam dor no calcanhar. Para caminhadas longas, o ideal é usar tênis com um bom sistema de absorção de impacto”, recomenda Wilel Benevides.
O angiologista Bruno Naves reforça que as sandálias do tipo rasteirinha fazem com que a pessoa ande como estivesse se “arrastando”, não havendo a movimentação dos pés e da panturrilha.
“Assim, o sangue não circula adequadamente no corpo”, ressalta. O ideal é alternar os tipos de saltos. “A oscilação faz com que a circulação sanguínea trabalhe corretamente”, diz..
Se você sofre de algum problema em decorrência do uso inadequado do salto não precisa se desesperar. A primeira coisa a se fazer é procurar um médico especialista em pés e tornozelos.
Existem tratamentos para resolver a patologia apresentada, e vão desde o uso de medicamentos, troca do tipo de calçado usado até a correção cirúrgica. Todo com recomendação médica. E ainda vale a velha sabedoria popular: “É sempre melhor prevenir do que remediar”.
0 comentários:
Postar um comentário