Fernanda Oliveira, grávida de 8 meses, e a filha Isabell
Engana-se quem pensa que somente os gatos transmitem a toxoplasmose, doença infecciosa causada pelo protozoário Toxoplasma gondii. Geralmente, são os felinos os culpados na história, e a fama faz com que as pessoas associem a doença ao nome deles. Porém, a verdade nem sempre é essa, e todos os animais domésticos podem ser transmissores da toxoplasmose. Beber água fervida ou filtrada, não comer carne crua ou mal passada, lavar bem verduras, frutas e legumes e não esquecer de higienizar as mãos antes das refeições e do preparo dos alimentos são recomendações de especialistas para evitar a contaminação em mulheres grávidas e as sequelas em bebês, como, por exemplo, deficiência visual e lesões no cérebro.
“A prevenção é o melhor para se evitar aborrecimentos numa época que deve ser de celebração para os pais”, diz o ginecologista Carlos Henrique Mascarenhas Silva. O médico, que também é especialista em Medicina Fetal, alerta que qualquer animal doméstico pode se tornar transmissor da toxoplasmose, como o cachorro que vive no mesmo ambiente que o gato contaminado.
Por isso, o ginecologista diz ser fundamental que a gestante não tenha contato com esses bichos, mesmo que eles fiquem somente no quintal. “Esses animais não manifestam a doença, são portadores. Eles passeiam pela casa inteira, deixando o rastro do protozoário causador da doença. A mulher pode tocar nestes locais contaminados e levar a mão à boca. O ideal é não ter animais domésticos em casa durante a gravidez”, observa.
Essa foi uma das recomendações que a dona de casa Fernanda Cristina Bonifácio de Oliveira, 30 anos, grávida de 8 meses de um menino, recebeu do seu obstetra. Mesmo sem animais de estimação em casa, ela não dispensa os cuidados quando visita a mãe, que mora numa casa espaçosa e com cachorros. “Não fico perto deles. Além disso, não ando descalça e nem manipulo a terra”, conta a gestante, que já tem uma filha, Isabella Cristina Bonifácio de Oliveira, 9 anos.
Evitando a doença durante o período da gravidez
A mamãe relembra que também foi instruída em como evitar a toxoplasmose em sua primeira gravidez, mas notou que a lista de cuidados aumentou desta vez. “Minha médica recomendou ficar longe de papagaio. Não sabia que eles transmitiam a doença”, diz Fernanda Cristina. Segundo o ginecologista Carlos Henrique, as fezes dos gatos podem contaminar os outros bichanos, que tornam-se portadores e transmissores do protozoário.
Todos esses cuidados, ainda de acordo com o especialista, devem ser repassados às futuras mamães no início do pré-natal. Porém, Carlos Henrique salienta que nem sempre as grávidas recebem informações sobre as formas de contaminação. E a prevenção não fica restrita a dentro de casa.
A atenção com a alimentação em restaurantes, principalmente em self-service, deve ser redobrada. “Todo legume, verdura e fruta que a gestante for comer deve ser cozido, pois o calor mata o protozoário”, ressalta. O mesmo cuidado deve ser tomado com as carnes de qualquer tipo. “Nada de bife mal passado ou cru”, diz.
Ele alerta ainda sobre o perigo do coraçãozinho de frango ou de boi. Mesmo se o alimento estiver bem tostado, corre o risco de estar cru por dentro, contaminado com o protozoário.
Foi a alimentação uma das principais preocupações da estudante Flávia Regina Cardoso, 28 anos, durante a sua primeira gestação. O filho dela, hoje com 1 ano, nasceu saudável. “Fiz o exame de sangue duas vezes, para constatar possíveis problemas, e não comia nada cru. Meu médico ensinou a fazer uma solução com vinagre para esterilizar frutas, legumes e verduras”, diz.
Se os cuidados não forem tomados, é grande o risco da criança nascer com algum problema. A mulher também pode sofrer abortos espontâneos se a contaminação acontecer no primeiro trimestre da gravidez. Quando a infecção ocorre num período mais avançado, o bebê pode ser contaminado pelo parasita que chega ao feto por meio da placenta.
Segundo o médico, o risco de sequelas aumenta a partir do quarto mês de gestação, quando o sistema neurológico da criança está em formação. Neste caso, pode ocorrer a inflamação da parte do sistema nervoso central que compreende o cérebro. O bebê infectado pode perder a visão, o tato e não andar.
Os sintomas da toxoplasmose são bastante parecidos com a da gripe. O paciente pode apresentar dor de cabeça e no corpo, coriza e desânimo, fazendo com que a pessoa acredite ser apenas um resfriado. O diagnóstico é feito a partir de uma análise do histórico da gestante e da pesquisa da imunoglobina (exame de sangue).
Se a toxoplasmose contaminar apenas a mãe, ela será tratada com antibióticos para adulto. A situação se agrava se for constatada a toxoplasmose congênita, quando o bebê também é infectado. O obstetra consegue o diagnóstico a partir do exame de amniocentese (obtenção do líquido amniótico que banha o feto por meio de punção da cavidade amniótica). Constatada a contaminação do feto, o médico passa a administrar antibióticos específicos para crianças, e a chance de cura é grande. O medicamento é ingerido pela mãe e, no organismo, chega ao bebê pela placenta.
As mulheres que tenham contraído a toxoplasmose antes da gravidez, ainda de acordo com o médico, dificilmente desenvolverão a doença novamente. “Nem todas as mulheres contaminadas terão filhos contaminados também”, observa. Segundo Carlos Henrique, no Brasil, a incidência é de uma criança doente para cada 1.000 que nascem vivas. “Há alguns anos essa taxa era maior, e pode ser reduzida ainda mais se as mães tomarem as medidas corretas de prevenção”, orienta.
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