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15/05/2010

Presa quadrilha que fazia empréstimo no nome de aposentados A partir dos dados sigilosos do INSS, os criminosos escolhiam o nome de um idoso. Entre as fraudes, existe até um empréstimo em nome de um morto.

Nome completo, data de nascimento, número do benefício, da carteira de trabalho, do CPF e valor da aposentadoria: as informações, de mais de 100 pessoas, em seis estados, são de cadastros sigilosos da Previdência Social.

Só funcionários credenciados do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), da Polícia Federal e de tribunais de Justiça poderiam ter acesso. Mas os documentos estavam em poder de uma quadrilha de estelionatários da região de Sorocaba, no interior de São Paulo. O aposentado José dos Santos Neto que tem 54 anos e mora na capital paulista foi vítima do bando.

Durante seis meses, policiais acompanharam a movimentação da quadrilha. Esta semana, dez pessoas foram presas. A partir dos dados sigilosos do INSS, os criminosos escolhiam o nome de um idoso.

Os golpistas usavam informações verdadeiras, como data de nascimento e filiação, para fazer uma carteira de identidade falsa. A foto era de um integrante da quadrilha com idade aproximada da vítima.

Com os golpistas, a polícia encontrou várias fotos que seriam usadas na documentação ilegal. O mesmo criminoso aparece com vários RGs diferentes. A quadrilha ainda falsificava o título de eleitor e o CPF dos idosos.

Um homem que está preso é a principal testemunha da polícia. Ele conta que os golpistas compravam carteiras de identidade em branco no centro da capital paulista, por R$ 350 cada uma. A polícia tenta descobrir quem seria o fornecedor. “Você faz o nome que quiser. Você pega, coloca a sua foto, dedo e assina”, o homem preso explica o processo de falsificação.

Usando documentos falsos, mas com dados de um aposentado real, os golpistas conseguiam abrir contas bancárias e pedir o chamado empréstimo consignado, quando a parcela já vem descontada do beneficio. Os criminosos ficavam com o dinheiro, e os idosos, com a dívida.

Em nome do aposentado José dos Santos Neto, havia um empréstimo consignado de R$ 4,7 mil. Na terceira parcela descontada, ele percebeu o golpe. Até conseguir provar que não era dele o financiamento, foram mais cinco prestações debitadas: um total de quase R$ 1,2 mil. “Eu fiquei em desespero. O carro estava sem gasolina e eu estava sem dinheiro nenhum”, conta.

Já os estelionatários comemoravam muito a liberação dos empréstimos.

Golpista 1: São 24 horas pra cair. Já está tudo certo.
Golpista 2: Maravilha, moleque.
Golpista 1: É ‘nóis’, meu filho.

Esse empréstimo a que os criminosos se referem saiu em nome do aposentado Geraldo Inácio Gonçalves, de 55 anos, que mora em Ferraz de Vasconcelos, na Grande São Paulo. Mostramos a ele a conversa do estelionatário, que chegou a se passar pelo filho do aposentado. Ele queria ter certeza da liberação do dinheiro.

Golpista: Acho que o meu pai fez um empréstimo com vocês.
Atendente do banco: Qual é o nome do seu pai?
Golpista: O nome do pai?
Atendente do banco:- É, o nome.
Golpista: Geraldo Inácio Gonçalves.

Quando veio a notícia que o dinheiro entrou na conta, a quadrilha conferiu o saldo no autoatendimento do banco: R$ 9.056.

O aposentado reclama que ninguém do INSS acreditou quando disse que era vítima de um golpe. “A gente está sendo muito humilhado, falando que a gente fez o empréstimo e, depois, se arrependeu”, conta o aposentado Geraldo Inácio Gonçalves. “Eu nem dormia direito de noite, rezava, pegava com Deus, para resolver, para não descontar”.

Depois de procurar o INSS, o Procon e a polícia, o aposentado conseguiu bloquear o empréstimo antes que a primeira parcela fosse cobrada. Ele ainda teme que outros golpistas estejam usando as informações sigilosas da Previdência Social.

“Às vezes, pode sujar o nome da gente. Aí, eu vou pagar alguma coisa que eu não fiz em meu nome”, declara Geraldo Inácio Gonçalves.

A polícia calcula que o golpe tenha rendido à quadrilha presa esta semana em São Paulo mais de R$ 2 milhões, em seis meses. Entre as fraudes, existe até um empréstimo em nome de um morto. Ele morreu em outubro do ano passado. Seis meses depois, os criminosos abriram uma conta bancária em nome dele e fizeram uma dívida de R$ 3,2 mil.

“Podem ter feito muito mais e ainda não apareceu. Não estão respeitando o seu sentimento, a memória de uma pessoa que acabou de falecer”, diz a irmã da vítima do golpe.

“Nós acreditamos que isso mostra que eles tinham informações privilegiadas, não só na previdência como nas outras instituições financeiras”, aposta o delegado Wilson Negrão.

A polícia também apreendeu com a quadrilha uma máquina que rouba senhas e dados de cartões bancários.

Sobre os documentos do INSS que estavam em poder dos golpistas, falamos com o Ministro da Previdência Social, Carlos Eduardo Gabas. “É impressão de uma tela de computador, que pode ser feita dentro da previdência ou fora dela, através dos órgãos que tem convênio conosco. Se houver a participação de servidores da previdência, isso será apurado em um processo disciplinar, e esse servidor poderá ser demitido”, declarou.

Segundo o ministro, este ano, foram feitos R$ 2,2 milhões empréstimos consignados. Houve fraudes comprovadas em 953 contratos.

“Se o aposentado identificar que há um desconto no seu contracheque que ele não fez, ele automaticamente liga para o 135 ou via internet, e o banco tem 10 dias para apurar ou apresentar o contrato ou devolver o dinheiro ao segurado”, explica o ministro da Previdência Social.

Depois de ser vítima do golpe do empréstimo, o aposentado José dos Santos Neto dá um conselho simples, mas que pode evitar prejuízos no futuro: “eu tiro extrato agora de 15 em 15 dias. Quando eu movimento muito a conta, de sete em sete dias, eu estou tirando o extrato. Eu fico indignado ver um negocio desse parar na mão de bandido”.

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